Não desejes, nem sonhes, alma incauta, Que a ilusão tem o encanto da sereia, Que em noites aromais de lua cheia Seduz e perde, em alto-mar, o nauta. Feliz daquele que os seus atos pauta Dentro dos dons da vida que o rodeia, E acha o leito macio e a mesa lauta Na indiferença da fortuna alheia. Feliz de quem, da vida para a morte, Embora pobre, de pobreza triste, Se contenta, afinal, com a própria sorte. Se há ventura no mundo, essa consiste, Talvez, em suportar, de ânimo forte, A renúncia de um bem que não existe. Da Costa e Silva
XIX Teus passos somem Onde começam as armadilhas. Curvo-me sobre a treva que me espia. Ninguém ali. Nem humanos, nem feras. De escuro e terra tua moradia? Pegadas finas Feitas a fogo e espinho. teu passo queima se me aproximo. Então me deito sobre as roseiras. Hei de saber o amor à tua maneira. Me queimo em sonhos, tocando estrelas. Hilda Hilst In Poemas Malditos Gozosos E Devotos (1984)
A minha vida é um abismo De dúvida e pessimismo, Quando ouço o meu coração. Mas se ouço o meu pensamento, É também um firmamento De fé e resignação. Por isso, entre o céu e o abismo, Com as nuvens do Cepticismo, Meus dias correndo vão... Da Costa e Silva
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