ÚLTIMO SONETO
Ainda hoje a Vida, a carcereira,
deu-me, por entre as grades da prisão,
a minha bilha de água verdadeira
e o meu pedaço humílimo de pão.
A fome fez da minha boca mendigueira
uma cítara, e a sede deu-lhe a afinação
que têm as folhas outoniças da amendoeira
para os dedos sutis da viração.
Assim, cada bocado de centeio
que trituro nos dentes, sabe-me, antes,
a um manjar esquisito e sem igual.
E cada sorvo de água, fresco e cheio,
vibra em meu paladar cordas ressoantes
de secreta lascívia espiritual
Tasso da Silveira
in Poemas
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